Transforme a frustração da sua equipe em motivação

A frustração faz parte da vida. A sua equipe se sentirá frustrada em algum momento. Como você, líder, pode ajudar canalizar essa frustração para que ela seja transformada em motivação?

Alguém que perdeu um grande negócio, clientes importantes ou não apresentou resultado satisfatório está sujeito a sentir decepção, frustração e raiva. A maioria dos líderes, quando estão diante de um funcionário frustrado, pensa que deve consertar essa situação o quanto antes para que esse sentimento negativo não contagie outras pessoas da equipe ou outras equipes da empresa. Ou seja, o líder vê a frustração como um problema a ser resolvido.

A reflexão que queremos trazer hoje é você, líder, deve aprender a auxiliar os membros da equipe para que eles sejam capazes de canalizar as emoções negativas e transformá-las em poderosas ferramentas de motivação e destravamento de potenciais ainda não conhecidos.

Vamos abordar 3 etapas para você conduzir uma conversa com o objetivo de direcionar as emoções negativas para um crescimento positivo:

Dê nome às emoções negativas e se envolva com a pessoa

O que muitos líderes fazem é uma tentativa de resgatar as pessoas das emoções negativas. Essa não é uma abordagem eficaz, pois normalmente ela esconde os verdadeiros sentimentos negativos. Como se fosse apenas colocar um pano quente nos sentimentos, olhar pra frente e seguir o rumo.

O primeiro passo a ser dado é promover o engajamento dos membros da equipe que estão decepcionados. O seu papel como líder é nomear a emoção negativa que você acha que a equipe ou funcionário tem no momento e abrir um diálogo sobre ela. Vamos a um exemplo real sobre isso para ficar mais claro o entendimento?

Um funcionário de uma determinada empresa estava prestes a ser promovido. Entretanto, os líderes receberam feedbacks anônimos e críticos, o que levou a decisão da não promoção naquele trimestre. O funcionário se sentiu chocado e magoado com a decisão. Pessoas do seu círculo tentaram colocar um pano nas suas emoções falando o quanto ele era bom e que ele não deveria se deixar abater. Nem precisamos dizer o quanto isso não produziu efeito no que ele estava de fato sentindo.

Um dos líderes, já sabendo dessa metodologia para transformar frustração em motivação, iniciou uma conversa: “Parece-me que você de fato está decepcionado!”. Depois de uma longa pausa, o funcionário disse, “Sinceramente, não estou decepcionado; sinto que fui traído!”

Aqui, é importante lembrar que não há problema se você se enganou em relação à emoção negativa que você nomeou. A partir do momento em que você colocar rótulo em uma emoção, a pessoa irá ou concordar, ou lhe corrigir. E com esse sentimento nomeado corretamente, é possível seguir adiante nesta conversa.

O funcionário disse que estava bravo, magoado e que queria pedir demissão. No momento que ele externalizou esses sentimentos ele se abasteceu de energia. E é essa energia que tem que ser canalizada de forma construtiva. Vamos ao segundo passo.

Abasteça o autocoach, e não a autocrítica

Com a emoção identificada, é hora de focar no coaching e incentivar que o funcionário realize o autocoach. Perguntas sobre como essa situação poderia ter sido evitada, o próprio funcionário percebeu o que deveria ter feito e falou: “Nitidamente, tenho um ponto cego; preciso dedicar mais tempo para entender como sou visto aos olhos das outras pessoas.”

 A energia pode também despertar dúvidas acerca das habilidades de uma pessoa. O importante que a conversa fique nas linhas do autocoaching e não da autocrítica. O autocoaching positivo ajuda; a autocrítica é autodestrutiva.

Veja aqui um exemplo: o coaching usa perguntas como “O que essa emoção está me dizendo?”. Quando a autocrítica entra no jogo, respostas como “Sou tolo, preguiçoso e detestável.” Já uma resposta focada no autocoaching responde com uma lista de atitudes: “Preciso trabalhar mais, pensar de forma diferente e solicitar apoio, pois ainda não cheguei lá.”

Você pode ampliar a voz do autocoaching amortecendo a autocrítica ao caracterizar uma emoção negativa como um sinal de propósito. Você pode dizer, por exemplo, “Isso realmente é importante para você, não é?” ou “Eu consigo ver a importância disso para você.” Observar a emoção negativa como sinal de entusiasmo ajuda a abastecer a motivação produtiva.

Outra forma de ativar o pensamento autocoaching é quando o líder se torna vulnerável e compartilha história para combater a tendência de autocrítica. Compartilhe as suas experiências na luta com o seu crescimento profissional. Todos percorremos uma jornada, compartilhe a sua utilizando frases de efeito de autocoaching, demonstrando os momentos que fizeram você sentir que não era bom o suficiente, para logo após, sentir que tinha a capacidade de avançar.

Canalize a energia para a ação

Agora é hora de reunir toda essa energia por detrás da emoção negativa e direcionar para aquelas coisas que conseguimos controlar. Para tanto, o seu papel como líder é ajudar a elaborar um cenário claro da lacuna que existe entre uma ação futura e uma de inatividade – e utilize a diferença para abrir um canal energético para a ação. Comece pedindo para a pessoa imaginar como irá se sentir se nada mudar.

No caso do nosso exemplo, a pergunta foi: “Como você irá se sentir em 90 dias após ter ficado transtornado com o feedback e não ter feito nada?” “Muito mal” foi a resposta.

“E como você se sentiria se tivesse condições de fazer algo a respeito e seguir em frente?” “Como se tivesse tirado um peso das costas”, afirmou ele.

Pronto, neste momento ele sentiu a lacuna entre fazer algo a respeito ou simplesmente colocar um pano quente e seguir em frente, ignorando a emoção e o feedback.

Não ser escolhido para uma promoção e sentir-se traído por colegas é um exemplo de alto risco das emoções negativas entrando em jogo. No entanto, há acontecimentos menos sérios que podem ser retomados por meio dessa abordagem de liderança. Algum dos exemplos mais simples e que acontecem muito no dia a dia de trabalho.

  • Uma reunião com cliente que não foi como o esperado;
  • Um projeto que não recebeu aprovação orçamentária;
  • Decisões estratégicas que geram trabalho e frustração para todos.

Para cada caso, há um benefício ao rotular a emoção, veja alguns exemplos de falas que podem ser aplicadas diante destas situações:

  • “É nítido que você está frustrado depois daquela reunião”, fazendo a conexão com o significado;
  • “Esse projeto realmente é importante para você, não é?”) e, então, canalizar a energia liberada para a ação;
  • “Como você se sentiria se pudéssemos recolocar esse tópico na lista para a avaliação do próximo trimestre? O que seria necessário para isso?”.

As emoções negativas são inevitáveis. Elas fazem parte de quem somos, pois aprendemos muito com elas. Mas, a inteligência emocional aqui é transformar essas experiências em algo positivo. Como o psicanalista Roberto Assagioli afirma em seu trabalho Psychosynthesis :

“Tentar eliminar a dor simplesmente fortalece sua permanência. É melhor desvendar seu significado, incluí-lo como parte importante do propósito e abraçar seu potencial para nos servir.”

 

Tradução