Inovação: como as empresas chegaram lá?

Há dois cenários conhecidos quando se trata de inovação, entretanto, o ambiente inovador normalmente é o mesmo: laboratório de inovação, postos tecnológicos, programas de aceleração de startups e hackathons com ideias desafiadoras que convidam os funcionários a desenvolverem novas soluções para problemas existentes. Os dois cenários conhecidos neste ambiente são: primeiro, o “teatro de inovação”, que não resulta em praticamente nada realmente inovador. O segundo, uma série de melhorias internas incluindo novos produtos e serviços, diferentes modelos de negócio e ótimas opções de investimentos em empresas em estágios iniciais que se conectam com novos segmentos de clientes.

É muito provável que a sua empresa quer atingir o segundo cenário, não é mesmo? Mas, como chegar lá sem ser um atuante no “teatro das inovações”?

A empresa Innovation Leader, juntamente com a KPMG LLP realizou um levantamento em campo com o objetivo de descobrir o que estabelece as empresas que têm sucesso na inovação. A pesquisa contou com um total de 215 participantes, sendo que em sua maioria, eles faziam parte dos grupos de inovação e de Pesquisa e Desenvolvimento das organizações. Logo no início conseguiu-se identificar que 10% das empresas participantes era “Inovadoras Exemplares”, pois tinham pensando em estabelecer compromissos com a estratégia de inovação alinhada à estratégia corporativa. Isso fez com que essas empresas enxergassem estatísticas para monitorar a receita gerada e resultados finais e culturais oriundas de toda a atividade inovadora proposta. Ou seja, eles focaram no longo prazo.

Entretanto, assim como o restante das empresas pesquisadas, as que estavam na lista “Inovadoras Exemplares” também apontavam em seus discursos a necessidade de ver resultados em curto prazo. Todos sentiam essa pressão. Contudo a sutil diferença estava aí: as empresas inovadoras estavam muito mais confiantes de que eles tinham desenvolvido uma estratégia de inovação viável e de sucesso, e que estavam colocando esforços necessários para bons resultados. Outro ponto descoberto é que essas empresas tinham líderes com visão de futuro e, por mais simples que pareça, mais paciência durante o processo de desenvolvimento e aplicação da estratégia.

Boas práticas de empresas inovadoras

Veja quais são as práticas que esse estudo revelou e que estão presentes nas empresas que atingiram o nível de inovação com sucesso:

Inovação foca a médio e longo prazo

É claro que as pequenas melhorias e as inovações incrementais existem, entretanto, as equipes gastam menos tempo e energia com elas. O tempo precioso é usado no trabalho de transformação e na elaboração de negócios novos que darão retorno a médio e longo prazo. As melhorias internas são feitas por colegas que trabalham diretamente nos setores e já possuem experiência no dia a dia das atividades.

Esse pensamento resulta na criação de uma função dentro da empresa que tem a consciência clara: há permissão para desenvolver um portfólio de novos produtos e serviços inclinado à grandes riscos.

Colaboração com parceiros-chave internamente

Para a inovação acontecer, ela não pode ser oriunda de um trabalho cansativo. É preciso sempre ter informação necessária e suporte para que novas ideias saiam do papel. Por isso, o grupo dos 10% demonstrou claramente o elo entre três grupos essenciais para a inovação dentro da empresa: equipe de estratégia, de capital de risco e de desenvolvimento corporativo (o que também pode ser a equipe de Fusão e Aquisições). A alta colaboração e integração dessas equipes foi fundamental para uma inovação mais certeira.

Esse fato deixou claro que estabelecer uma única pessoa para atuar em inovações e tentar abrir caminho não é eficaz. A colaboração e trabalho em equipe é essencial em termos de inovação.

Contratação adequada: recursos humanos fazem a inovação acontecer

Foi identificado que o número médio de equipes de inovação, em 90% das empresas era inferior a 10. O que aprendemos com os 10% das empresas inovadoras é que deve-se adicionar mais recursos humanos. Uma equipe pequena é mas fácil de gerenciar para realizar escotismo tecnológico ou atender às emergências das unidades de negócio. Contudo, quando se quer ir além no quesito inovação, gerando novas ideias e hackathons para testar novas propostas com o foco na receita relevante, é necessário focar em mais recursos humanos e externos “on demand”.

Sistema de incentivos presente e atuante

Outro aprendizado oriundo do grupo exemplar foi a elaboração de um sistema de incentivo com o objetivo de engajar os colaboradores nas atividades de inovação. Entre os citados pelas empresas estão: reconhecimento e premiações, tempo dedicado para o desenvolvimento de projetos inovadores, bônus para os funcionários e participação financeira nas ideias criadas, colocadas em práticas e que gerou retorno para a empresa.

Mensurar resultados

 Quando falamos do “teatro de inovações”, é muito comum não existir métricas para monitorar o impacto ou resultados, sejam financeiros ou não, do trabalho colocado em prática.

Entretanto, as empresas exemplares agiram de forma diferente. Elas criaram um quadro financeiro para o trabalho de inovação. Entre os indicadores, estavam: geração de receita oriundas das soluções inovadoras, redução de custos ou retrabalho, taxa interna de retorno (TIR). Entender sobre o valor econômico (ou não) que entregam para a empresa é fundamental para que programas de inovação permaneçam ativos, em constante crescimento e conquistando aceitação da cultura da empresa.

Derrotando os choques culturais

Eles existem, não há como negar. O mesmo estudo foi realizado em 2018 e, assim como em 2019, lá estava presente o choque cultural. Uma das receitas que tem potencial para derrotar o choque cultural é ter acesso a recursos humanos diversos e focar na contratação de funcionários com habilidades e perfis mais adequados. Questões culturais podem ser dribladas com a formação de equipe com o perfil comportamental direcionado a inovação.

É fácil de entender sobre a importância de “praticar” a inovação quando a comparamos com um músculo. Ela precisa ser exercitada e fortalecida ao longo do tempo. São os pequenos trabalhos diários que levarão a sua empresa a atingir resultados a médio e longo prazo. Não adianta comprar uma esteira e deixar na sala, sem uso, é preciso ter diferentes estímulos para o músculo da inovação.

É bem possível que a sua empresa já esteja colocando em prática um ou dois dos pontos que abordamos neste conteúdo, entretanto, é necessário elaborar uma iniciativa de inovação que supere os obstáculos internos e sobreviva para entregar resultados mensuráveis. A dificuldade está aí: não adianta investir alguns meses colocando todos esses pontos em prática. A sua empresa precisará investir anos. Mas, acredite: você irá se arrepender de não ter começado a jornada de inovação hoje.

Fonte: https://hbrbr.uol.com.br/onde-as-empresas-boas-em-inovacao-acertam/