Cursos livres: uma alternativa para entrar no mercado de trabalho

O Brasil tem hoje cerca de 50 milhões de jovens entre 15 e 29 anos de acordo com os dados do IBGE. E desses jovens, quase 13 milhões não estudam nem trabalham – metade estava desempregada no final de 2020, onde a taxa de desemprego dessa faixa da população ficou em mais de 56%.

Mas, apesar desse número alto de jovens desempregados, as empresas alegam que têm muita dificuldade de contratar. Um dos motivos que eles apontam é a falta de preparo básico, de qualificação desse jovem.

Mas como preparar o público para o mercado de trabalho sem precisar investir tempo e dinheiro em um curso de graduação? A solução pode ser investir em cursos livres! 

Também conhecidos como cursos profissionalizantes, eles estão sendo cada vez mais procurados, mas isso não significa que cursos universitários vão ser deixados de lado. Entretanto, os cursos livres, em especial o online, são específicos para as carreiras das quais as startups de inovações pedem.

Tudo ao seu tempo

Quando comparamos um curso livre com um curso de graduação, é preciso entender que tudo tem o seu tempo. Se você for construir uma usina hidrelétrica ou fazer todo o sistema de encanamento de um shopping, por exemplo, um curso de poucos meses não vai te dar todo o conhecimento para desenvolver bem essa tarefa. 

É preciso ter uma profundidade de conhecimentos em pilares que estão abaixo do encanamento, da eletricidade, da programação de UX e das vendas.  

Mas se dentro desse mesmo projeto de construção da usina hidrelétrica, você for desenvolver tarefas repetitivas e mais técnicas, ter um conhecimento mais simples, pode ser o ideal, e é aí que entram os cursos livres. 

Cursos livres no Brasil

O Brasil está bem atrás de outros quando se fala desse tipo de curso – tanto alunos escolhendo esse tipo de estudo quanto empresas entendendo que esse ensino é tão fundamental quanto uma graduação. 

Se compararmos o Brasil com a Alemanha ou Argentina, nosso ensino profissionalizante ou técnico é um sexto do que eles têm proporcionalmente. 

Aqui, direcionamos muito para a faculdade, mesmo sabendo que o que precisamos são de pessoas com conhecimento técnico. 

Ter uma universidade no currículo é um padrão para as empresas na hora de abrir uma vaga, e muitas vezes, essa vaga nem precisa de um ensino superior. Porém, as empresas já estão fazendo o movimento de olhar com mais atenção para os cursos técnicos.

O Brasil vive um paradoxo hoje: de um lado o desemprego com uma das taxas mais altas; e de um lado as empresas reclamando que falta gente para contratar, faltam pessoas treinadas para poder assumir essas posições de entrada.

E por conta disso, vale lembrar que são necessários processos mais inclusivos nas empresas. Enquanto o diploma Universitário for pré-requisito para a empresa contratar uma posição de entrada, naturalmente há uma barreira enorme para uma parcela gigante da população.

O conceito de curso livre é muito mais interessante, especialmente para os jovens, pois eles entendem a primeira dimensão do que é trabalhar. Ele começa trabalhando, e ao longo de dois ou três anos vai entendendo melhor como são as coisas e entendendo quais são os seus interesses. Depois desse tempo, ele pode decidir se faz um curso universitário ou não. 

Diferença entre faculdade e curso livre

A faculdade, dado esse amplo espaço de tempo e os blocos grandes, possibilita que o aluno desenvolva um espírito crítico. Ela gera a possibilidade de o aluno poder trabalhar em diferentes frentes, que não necessariamente são aquelas que ele vai trabalhar no dia a dia, e de resolver problemas.

Além disso, o aluno aprende sobre a capacidade de se comunicar (trabalhos em grupo e o TCC), entende que não pode ficar enrolando e deixar as coisas para os últimos meses, bem como aprende a conversar e negociar com o professor. 

Essas, são soft skills que nos cursos de menos duração, não há tempo hábil para ser desenvolvida. E esse tem sido o desafio dos cursos profissionalizantes: como desenvolver essas habilidades nos jovens em pouco tempo. 

Mas afinal, é preciso de faculdade para crescer?

Não é incomum ouvir especialistas dizendo que existe uma total desconexão entre a escola e o mundo do trabalho. Temos o novo ensino médio, que está gerando muita expectativa, mas tem muito a evoluir. 

E enquanto isso, os cursos livres estão aí e podem também ser uma chave para mudar esse cenário de desconexão, uma vez que podem aproximar mais essa parte de capacitação e a necessidade de fato do mercado, acelerando o processo de preparação desses jovens.

Apesar dos cursos livres diminuírem a distância entre jovens e empresas, instituições de ensino e empresas não devem andar sempre juntas – se as escolas responderem sempre à demanda de trabalho, não acontece a inovação. 

Inovação no ensino

A faculdade é um espaço de conhecimento e de inovação, mas ela não deveria ser a única opção para uma pessoa se desenvolver no mercado de trabalho. 

A ideia é que as pessoas possam continuar se desenvolvendo e aprendendo ao longo da carreira e os cursos livres englobam isso.

Mas é preciso inovar na pedagogia também! Estudar e criar metodologias mais atrativas, de aprendizagem em pares, com projetos, com conexão do aluno com aquilo que está sendo produzido. Essa troca é fundamental para as coisas darem certo. 

A ideia é a pessoa ser agente do próprio desenvolvimento, do seu conhecimento. 

O curso livre tem mais espaço para inovar. Seja na carga horária ou no modelo (presencial ou online), há mais liberdade de espaço para inovação e criação. E com isso é possível ter maiores retenções, bem como taxas de sucesso maiores também. 

É importante os jovens entenderem que os cursos livres são excelentes opções para a entrada no mercado de trabalho, mas as empresas também precisam entender que, na maioria das vezes, vagas técnicas ou de entrada, não é necessário exigir do candidato uma graduação – seja ela completa ou em curso. 

Muitas vezes, a atitude e os projetos que esse jovem desenvolve ao seu redor são muito mais interessantes do que o diploma no currículo. E é papel das pessoas de recrutamento observar essas características.